sábado, 18 de junho de 2011

Um presente marcante

Essa fazia tempo que eu queria compartilhar...

Sabe quando uma criança quer muito, muito mesmo um presente? Pode ser um brinquedo, ou uma peça de roupa que ela viu trocentas vezes na propaganda da tevê, ou um bichinho de estimação. Ela sonha com ele há dias, semanas - que parecem meses quando a gente é criança - e de repente, não mais que de repente, o pai, a mãe, a tia (ou mesmo o papai noel!) entrega o embrulho com este presente dentro. Olhos brilhantes, mãos suando, a criança já imagina o que seja aquilo pela embalagem. Ela destroe rapidamente o papel e solta um grito feliz, como se nada no mundo importasse mais do que aquele objeto dos desejos logo ali, na sua frente...

Essa foi a imagem que tive ao ver a Jana, minha amiga e ex-roommate alemã, ao receber meu presente de aniversário: um par de havaianas.

Há tempos eu não via alguém tão contente com um presente. Ganhei o dia com a felicidade dela. Há uns dois anos ela esteve no Brasil, mas apressada pelo grupo de viagem, acabou deixando para trás o que mais queria ter trazido do outro lado do Atlântico. Vivia se lamentando para mim por isso sempre que me via com o meu chinelo velhinho.

Ela não tirou mais as havaianas do pé. Disse que já se sentia mais "brasileira", que a cor era linda (são brancas, daquelas com a bandeira do Brasil nas tiras - tipicamente para exportação) e começou a ensaiar uns passos desajeitados de samba. Rodopiava e ria, ria muito. Disse que ia desfilar o verão inteiro com elas. Me deu 20 abraços apertados durante os poucos segundos em que não estava passando as mãos nos chinelos - comprados pela minha mãe em Brasília e trazidos gentilmente pelo Marcelo, quando nos encontramos em Barcelona. Eram havaianas genuinamente brasileiras!

Acho que nunca vou me esquecer dessa cena... como às vezes pequenos gestos nossos podem ser surpreendentemente tão grandes para alguém. E nos encher de alegria.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Alemanha, terra do carnaval!

Parece até ironia. Mas em apenas três meses de Alemanha a palavra "Karneval" foi uma das que mais ouvi por aqui.

Primeiramente em março, na data oficial. Enquanto as estereotipadas mulatas do Rio mostravam seus imensos traseiros na Sapucaí, e os cantores de axé se esgoelavam em cima dos trios elétricos na Bahia, aqui na Alemanha a festa de rei Momo também teve vez. No "carnaval mais famoso da Alemanha" - como se isso me dissesse alguma coisa assim que cheguei - os foliões também desfilavam com suas curiosas fantasias pelas ruas de Colônia. É claro que, sob um clima que só com muita sorte ultrapassa a marca dos 10 graus, não dá para pensar em usar algo muito descoberto, como no Brasil. Mas aqui também tem desfile em carro aberto, música, (muuuuita) bebida e sujeira na rua.

Obviamente não pude escapar das perguntas: "e como é o carnaval no Brasil? Muito diferente daqui?". Sim, claro que é. A começar pelo frio. O desfile também tem outra vibe. As pessoas ficam gritando em baixo e a galera de cima dos carros joga doces, flores e até rodelas de linguiças embaladas no plástico (salve o clichê!).

Mas também tem as semelhanças. Vi vários folhetos nos ônibus e trens incentivando o uso de camisinha. Também se faz muito minino nessa época na Alemanha, quem disse que não?! Quem mora há mais tempo aqui nesta região do estado de Nordrhein-Westfalen, considerada a mais festeira do país, conta ainda que o povo fica mais alegre, mais saidinho. Nos bares, depois dos desfiles, a galera se pega forte. Esquema "beijo-não-me-liga". Uma micarê em pleno solo germânico.

A principal diferença, porém, é que apesar da bebedeira geral, aqui eu não vi confusão.
  
Sim, mas voltando a falar de carnaval. Neste fim de semana passado rolou o Carnaval das Culturas, em Berlim. Pessoas de diversas nacionalidades montam seus blocos para mostrar o que seu país têm de mais animado. Acho que o Brasil participa bem com uns 10 blocos, no mínimo. Um grupo de afoxé (!) abriu o desfile, com uma pseudo-Ivete puxando coro de cima do... digamos, trio. A alemãozada de fora do bloco não se mexia muito, mas fazia cara de quem tava gostando. E assim os grupos vão se sucedendo neste desfile, no bairro de Kreuzberg. Quando a gente ouvia uma barulheira se aproximando, batata!, era algum grupo brasileiro. Como somos barulhentos! Que alegria!

Eu e Jana, minha irmãzinha alemã, nos juntamos a um dos grupos de afrosamba, sambareggae, axéilê (ou qualquer coisa de nome parecido que tenha batuque e gente suada). E literalmente pulamos atrás do bloco. Dezenas de pessoas loiras com câmeras na mão fotografando os músicos e nós, os foliões.

O brazuca mais famoso, no entanto, é o bloco que leva o criativo nome de Sapucaiu no Samba. Além de bateria com surdo, cuíca e tamborim, o grupo tem mulata e fantasia de penas. Eu juuuuuro que vi um protótipo de Ala das Baianas rodando para lá e para cá.

Os termômetros em Berlim bateram na casa dos 25 graus, ou um pouco mais, seguramente.

Eu me senti em casa.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Comi salada, e agora?

O que era para ser pânico, virou piada. Pelo menos entre a comunidade brazuca daqui de Bonn.

Desde que surgiu essa história de contaminação pela EHEC, os coleguinhas de redação se revezam com a frase: "Ontem comi salada. Será que eu vou ter um treco?". Pelo menos até agora, todos passam bem.

Há pelo menos três semanas, uma bacteriazinha sem graça resolveu estragar o prazer de se comer uma boa salada neste abafado fim de primavera europeu. As primeiras notícias foram de que a nova "cepa", a EHEC, estaria instalada nos pepinos vindo da Espanha. Suspende o pepino espanhol, minha gente!!!

Depois de análises em laboratórios, verificaram que os pobres vegetales estavam sendo vítimas de uma grande injustiça. Não tinham nada a ver com a história. Quer dizer, até encontraram uns bichinhos de leve, mas nada que chegasse aos pés do poder da EHEC. Mesmo assim, apesar de serem loucos por pepinos, os alemães mantiveram o boicote.

Em seguida, a recomendação do governo passou a ser evitar alface e tomate cru. Uma amiga nos contou que ficou assustadíssima quando leu a notícia no fim de semana passado. Logo alface e tomate? Decidiu seguir à risca a ordem e, depois de sair do cinema no domingo à noite, sentou-se num restaurante e pediu um delicioso prato de brotos.

Manchetes do dia seguinte: "Brotos suspeitos de transmitir EHEC".

Mais uma vez, os laboratórios super eficientes da Alemanha descobriram rapidamente que uma nova injustiça havia sido feita. Os brotinhos eram mesmo inofensivos.

Hoje eu li que os produtores de abobrinha e pimentão estão arrancando os cabelos porque seus produtos também estão encalhados nas feiras e mercados. Pediram ajuda em dinheiro ao Comitê Europeu, que já tinha prometido uma graninha para a galera do pepino, do alface e do tomate. Acho que nunca se comeu tanta batata frita neste país!

Os alemães estão sendo taxados de incompetentes pelo resto da Europa porque não acham o foco de transmissão. O número de mortes já chegou a 26 em duas semanas, fora a quantidade de gente com sequelas da doença. A Espanha já declarou que vai atrás dos direitos dos pepinos na Justiça.

Pelo meu interesse no desfecho da história, acabei virando setorista de EHEC. Leio sobre isso o dia inteiro. De nada adiantou.

Hoje fui a um restaurante pertinho da minha casa com uma amiga que veio de Colônia me visitar. Pedido: um suco de maçã, um hamburguer e uma boa saladinha. Com alface, pepino, tomate e pimentão!

Mando notícias nos próximos dias.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Crise de identidade

Só mais uma antes de dormir (tá um barulhinho gostoso de chuva lá fora).

Perguntas que me faço quase que diariamente:

- Por que TANTA GENTE na Alemanha me chama de Marina, e não Mariana??
- Por que tem tanto maluco nas ruas de Bonn? Maluco mesmo, de falar sozinho, olhar pro céu, xingar os outros na rua do nada...
- Por que o sol não se põe às 22h durante todo o ano no mundo inteiro? É tão bom...
- Por que as pessoas aqui não vendem sorvete com o cone enrolado no guardanapo?

- Por que alemão é uma língua tão difícil? :(

Mas... Bonn?

Pois então. Eu costumava descrever Bonn apenas como "uma pequena cidade ao lado de Colônia", para que os não iniciados do mundo germânico pudessem entender melhor. A antiga capital da Alemanha Ocidental, porém, é bem mais que isso. São 320 mil habitantes de várias partes do mundo - pessoas que trabalham nos quase 150 organismos internacionais instalados aqui, como a ONU, e na estatal Deutsche Welle, com notícias em 30 línguas. Aqui também nasceu o grande compositor Beethoven, que dá nome a rua, praça, monumentos. Bonn fica às margens do Reno, um rio importante para turismo e para o comércio nesta região da Europa. A cidade, enfim, tem seu charme.
Além disso, claro, nenhuma outra cidade alemã tem o nome tão adequado para brasileiro fazer piadinha infame! ;)

Foto da Praça da Catedral, com a estátua de Beethoven ao fundo. O mercadinho rola nos fins de semana.

Parabéns, Thessa!

Não sei se todo mundo ficou sabendo por aí, mas por aqui na terra da cerveja o que bombou no fim de semana foi o aniversário de 16 anos da Thessa, uma menina que mora em Hamburgo - pelo menos até a semana passada ela morava por lá. Ela organizou a festa, pensou em cada detalhe e deve ter feito e refeito a lista de amigos para convidar. E achou que o Facebook seria a melhor forma de chamar a galera. "Pode vir quem quiser, mas me avisem antes", ressaltou na mensagem.
Pois bem, qual não foi sua surpresa, horas depois de clicar em "enviar", a pobre Thessa recebeu a confirmação de nada menos que 15.000 convidados!!! E ela ainda teve sorte, porque o convite chegou a mais de 60 mil usuários da net, segundo uma matéria que eu li. Fiquei imaginando a cara dos pais da Thessia quando ela contou: "ooops, deve vir mais gente!". Sem pestanejar, a família sumiu de casa no dia da festa (marcada para sexta-feira passada, dia 03) e chamou a polícia. Dezesseis pessoas foram presas por baderna.

Mas o melhor disso tudo foi a festa que os 1,6 mil "convidados" que apareceram fizeram na porta da casa dela. Surgiu de tudo. Churrasco, cerveja e câmeras de televisão. Na porta da casa da menina, o povo que queria entrar começou a gritar: "A gente quer ver a Thessa, vim dar parabéns a ela!!".

Os alemães podem ser espirituosos, vejam só.

http://www.youtube.com/watch?v=IEVKJsL5GM4&feature=related

domingo, 5 de junho de 2011

Alou, alou... testando

Alosson.... Na verdade, este é um teste pessoal. Nunca escrevi um blog. Talvez por ser "analógica demais", segundo definição de um amigo querido - e engraçadinho. Mas desde que troquei temporariamente (ainda não sei exatamente o quanto este "temporariamente" vai durar) o clima seco do cerrado brasileiro pelo Bratwurst às margens do rio Reno, na Alemanha, começou a me dar uma vontade louca de dividir com vocês que estão geograficamente longe, mas bem instalados no meu coração, parte das experiências que estou tendo aqui. É claro que nem tudo dá para contar. Por falta de tempo, por excesso de zelo ou por uma certa censura que os bons modos, a moral e os bons costumes impõem. Enfim, para não fugir do clichê, acredito que assim poderei estar um pouquinho mais perto de Brasília.

E se para isso será preciso ser menos preguiçosa e mais disciplinada... tá Bonn, né, fazer o quê?! :)